quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Não digas palavrões caralho!

«Já me estão a cansar... parem lá com a mania de que digo muitos palavrões, caralho! Gosto de palavrões! Como gosto de palavras em geral. Acho-os indispensáveis a quem tenha necessidade de dialogar... mas dialogar com caracter! O que se não deve é aplicar um bom palavrão fora do contexto, quando bem aplicado é como uma narrativa aberta, eu pessoalmente encaro-os na perspectiva literária! Quando se usam palavrões sem ser com o sentido concreto que têm, é como se estivéssemos a desinfectá-los, a torná-los decentes, a recuperá-los para o convívio familiar.

Quando um palavrão é usado literalmente, é repugnante. Dizer "Tenho uma verruga no caralho" é inadmissível. No entanto, dizer que a nova decoração adoptada para a CBR 900'2000 não lembra ao "caralho", não mete nojo a ninguém. Cada vez que um palavrão é utilizado fora do seu contexto concreto e significado, é como se fosse reabilitado. Dar nova vida aos palavrões, libertando-os dos constrangimentos estritamente sexuais ou orgânicos que os sufocam, é simplesmente um exercício de libertação. Quando uma esferográfica não escreve num exame de Estruturas "ah a grande puta" ("... não escreve!"), desagrava-se a mulher que se prostitui.

Em Portugal é muito raro usarem-se os palavrões literalmente. É saudável. Entre amigos, a exortação "Não sejas conas", significa que o parceiro pode não jogar um caralho de GT2. Nada tem a ver com o calão utilizado para "vulva", palavra horrenda, que se evita a todo o custo nas conversas diárias. Pessoalmente, gosto da expressão "É fodido..." dito com satisfação até parece que liberta a alma! Do mesmo modo, quando dizemos "Foda-se!", é raro que a entidade que nos provocou a imprecação seja passível de ser sexualmente assaltada. Por ex.: quando o Mário Transalpino "descia" os 8 andares para ir á garagem buscar a moto e verificava que se tinha esquecido de trazer as chaves... "Foda-se"!! não existe nada no vocabulário que dê tanta paz ao espirito como um tranquilo "Foda-se...!!".

O léxico tem destas coisas, é erudito mas não liberta. Os palavrões supostamente menos pesados como "chiça" e "porra", escandalizam-me. São violentos. Enquanto um pai, ao não conseguir montar um avião da Lego para o filho, pode suspirar após três quartos de hora, "ai o caralho...", sem que daí venha grande mal à família, um "chiça", sibilino e cheio, pode instalar o terror. Quando o mesmo pai, recém-chegado do Kit-Market ou do Aki, perde uma peça para a armação do estendal de roupa e se põe, de rabo para o ar, a perguntar "onde é que se meteu a puta da porca...?", está a dignificar tanto as putas como as porcas, como as que acumulam as duas qualidades. Se há palavras realmente repugnantes, são as decentes como "vagina", "prepúcio", "glande", "vulva" e escroto".

São palavrões precisamente porque são demasiadamente inequívocos... para dizer que uma localidade fica fora de mão, não se pode dizer que "fica na vagina da mãe" ou "no ânus de Judas". Todas as palavras eruditas soam mais porcas que as populares e dão menos jeito! Quem é que se atreve a propor expressões latinas como "fellatio" e "cunnilingus"? Tira a vontade a qualquer um! Da mesma maneira, "masturbação" é pesado e maçudo, prestando-se pouco ao diálogo, enquanto o equivalente popular "esgalhar um pessegueiro", com a ressonância inocente que tem, de uma treta que se faz com o punho, é agradavelmente infantil.

Os palavrões são palavras multifacetadas, muito mais prestáveis e jeitosas do que parecem. É preciso é imaginação na entoação que se lhes dá. Eu faço o que posso.»


Miguel Esteves Cardoso

3 comentários:

J.C. disse...

Totalmente, completamente LINDO!

Anónimo disse...

Man (=p), este é mm um daqueles posts q quase diz “cajó, comenta me!” :p (n é q eu n os comente todos... lol)
Mas so por causa das coisas, em vez de fazer um comentário vou emitir uma opinião, mas como isto tá grande como o crl (só pra ler tudo foi um sacrifício) – oh Miguel, deves ter a mania q és escritor! – vou emitir a minha opinião paragrafo-a-paragrafo, pq eu sou uma pessoa q n gosta de por rótulos ás coisas, e n vou meter os parágrafos todos no mesmo saco, como se fosse tudo a mm coisa, pq n é! Certo? Então aqui vai:

1.º Paragrafo – nd a apontar.

2.º Paragrafo – nd em desacordo, a n ser com o paragrafo em si mesmo, pois, entendo q n acrescenta nada de novo ao primeiro. Além d q que, na minha modesta opinião, uma caneta quando deixa de escreve deve apenas ser adjectivada de “puta”, e nunca “grande puta”. Este é um erro extremamente grave e, infelizmente, não menos frequente. Imaginem que a caneta em vez de simplesmente deixar de cumprir a função única para a qual foi projectada, rebenta a sua carga no bolso do seu legitimo portador. O que é que sobrava para lhe chamar, se já lhe tivéssemos chamado “grande puta” por deixar de escrever?? Por isso repito, nestes casos ela deve ser chamada apenas de “puta”, devendo o “grande” ser poupado para ocasiões verdadeiramente especiais.

3.º Paragrafo – mais uma vez o autor peca pela inexactidão dos exemplos apresentados. Em que parte do mundo é q se aplica a mto popular expressão “n sejas conas” a alguém q n joga um caralho de gt2?? Deves tar burro pah! Neste caso o máximo q se poderia dizer seria “és um menino!” (no máximo!). Já se estivéssemos a falar de PES6 a historia n seria a mesma.
Em jeito de nota pessoal, devo dizer q também sou grande adepto das expressões figurativamente relacionadas com o verbo “foder”.

4.º Paragrafo – este é aquele que eu chamaria o “paragrafo da discórdia”, e há uma série de razoes para isso, mas agora já tou a ficar farto de escrever, e n vou dizer quais são, mas garanto q são mto boas. Mas pronto, vá lá, até concordo com a ultima frase…

5.º Paragrafo – tá mto bem, sim sr., e gostei particularmente da chamada de atenção para o facto de a masturbação ser uma actividade q pouco se presta ao diálogo.

E pronto, tenho dito :p

Anónimo disse...

puta k o pariu...o que é certo é k teve bem pa caralho